quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Nietzsche e a História


 Por: Fábio Melo

A Filosofia de Nietzsche nasceu póstuma. Como o próprio filósofo costumava dizer, suas idéias só passaram a ter uma grande relevância no pensamento ocidental após sua morte. Mais ainda, somente após exorcizar-mos a suposta ligação do pensamento nietzscheano com as doutrinas nazi-fascistas, que utilizaram sua filosofia como justificativa de seus regimes. É somente na segunda metade da do século XX, principalmente nos anos 1960, que o pensamento de Nietzsche alcançará grande influência no próprio modo de produzir conhecimento em varias áreas das ditas ciências humanas, como a História, a Sociologia e até a Psicanálise. Grandes nomes da Filosofia européia contribuíram para isto, como Michel Foucault e Gilles Deleuze. O primeiro( Foucault) trás para a História o conceito de genealogia em Nietzsche, a busca da origem, e faz a história daquilo que aparentemente não tem história: como a loucura, a sexualidade. Desta forma Foucault ´´revoluciona´´ a História. Partindo desta nova forma de se fazer história, alguns historiadores da famosa Ecolle des Annales, na França, passarão a propor uma nova corrente teórica da historiografia: a chamada Nouvelle Histoire ( História Nova). Com efeito, a história nova trás ao estudo historigráfico estes novos conceitos, antes propostos por Foucault e com a inspiração de Nietzsche.
Cabe resaltar que o movimento historianovista surge em meados dos anos 1960; o historiador Jacques LeGoff publica seu livro com o titulo de ´´ A História Nova´´ em 1978. Assim, voltamos à influência postuma de Nietzsche, que sem querer influênciou a historiografia ocidental. Para além do bem e do mal, para além do marxismo, o legado do pensamento nietzscheano trras para nós historiadores um manancial de novas fontes das quais há muito deveriamos nos apropriar. O marxismo, em parte, acabou solapando temas que estão ligados ao cotidiano , que também tem uma história a ser contada mas que muitas vezes ,ainda presos as montagem economicistas, não nos damos ao trabalho de ´´ trazer à luz´´ estes temas corriqueiros. A loucura, a sexualidade, o amor, os valores, são sentimentos, mas que não deixam de ter uma história bem específica; as sociedades mudam e seus valores e costumes entram em transformações de tempos em tempos. O surgimento do cristianismo não eliminou imediatamente a antiga religião romana. Os sentimentos, as tradições e as idéias são importantes para chegarmos ao passado e escrevermos a história. Por muito tempo estes temas permaneceram mudos, cabe a nós históriadores faze-los falar; como dizia o próprio Nietzsche:´´fazer falar aquilo que gostaria de permanecer mudo´´.
Para além destas idéias, podemos encaixar no estudo e na pesquisa da história alguns conceitos provenientes da filosofia nietzscheana. Como por exemplo, o conceito de ´´eterno retorno´´. Para Nietzsche, este seria um dos conceitos centrais de sua filosofia. Penso, no entanto, que ao utilizarmos este conceito na area da história podemos fazer da seguinte forma: dado que o eterno retorno de Nietzsche seria a idéia de que alguns fatos sempre se repentem( uma espécie de de já vu), podemos utilizar como uma espécie de comparação entre as épocas, os povos em diferentes etapas da história, tomando cuidado para não caírmos na praga do anacronismo; como também podemos usar tal conceito para fazer a história se tornar uma ferramenta do presente, o eterno retorno serviria para fazer um link específico entre a situação trabalhada no contexto histórico e a situação atual.
Portanto podemos utilizar o pensamento de Nietzsche na história com o objetivo de alcançarmos outras análises e métodos, para termos um novo leque de possibilidade e leituras. Assimilar algumas das idéias de Nietzsche não deve servir para ´´engessarmos´´ nosso modo de escrever e fazer história, pelo contrário, devemos ter uma abrangência teórica para fazermos as escolhas cabíveis ao que queremos como resultado final de nossos trabalhos e pesquisas. Assim sendo, teremos mais confiança ao fazer a nossa história, teremos uma base teórica mais livre para pensarmos sob diversos olhares as mais diversar Histórias que são produzidas.

Nenhum comentário: