quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O SURGIMENTO DA PROPRIEDADE PRIVADA NA GRÉCIA E O CULTO AOS ANCESTRAIS

Por: Fábio Melo


A Heláde foi durante séculos palco de sussecivas invasões de povos indo-europeus. No princípio se sabe que a região do Peloponesso e das ilhas do mar Egeu, principalmente a ilha de Creta, eram habitadas pelos Pelágios, um povo provavelmente autoctone da região. Por volta dos anos 1500 a 1200 a.C. Com os deslocamentos dos vários povos de raíz indo-européia, da Asia central, levas destes povos acabaram chegando à atual Grécia pela regiãos dos Balcãs em busca do mar. Os primeiros indo-europeus que se instalam no Peloponesso são os Aqueus. Os Aqueus provavelmente entraram em contato com os Pelásgios e assimilaram parte de sua cultura. Assim como também entraram em contato com os cretenses, famosos por seu império comercial no Egeu. Por volta do ano de 1400 a.C. Os Aqueus após tantos anos de contato com os diversos povos acabaram dominando os cretenses e assim constituindo uma das mais brilhantes civilizações da antiguidade ocidental, a civilização Micênica. Os micênicos dominaram o comércio do Egeu. É deste período que se tratam as epopeias homéricas( Ilíada e Odisséia). Enquanto os micênicos dominavam o mar Egeu e boa parte da peninsula do Peloponesso, outros povos indo-europeus, também se instalam na regiaão da Heláde, são os Jonios e Eolios. Entretanto o povo que mais transformou a sociedade micênica e as demais da região do Egeu, foram os Dórios. Também indo-europeus e detentores de armas de ferro, os Dórios ao invadir o peloponesso logoforam se instalando. Os demais povos que ali habitavam( micênicos, Jonios e Eólios) não tinham um sistema de propriedade da terra, não havia nada que lhes garantissem a posse de um local. O que, de fato, os faziam donos de um lugar era a tradição. Esta tradição remontava aos tempos dos primeiros indo-europeus que chegaram à Grécia. E seus descendentes mantinham um culto aos ancestrais que não lhes garantia a posse da terra mas delimitava simbolicamente que o lugar pertencia à alguém. Com a invasão de um povo hostil, os Dórios, era necessário que os cultos aos ancestrais continuassem, e para isso a posse do lugar deveria se defendida e resguardada.
A antiga religião dos indo-europeus ingluênciou concerteza a religião dos antigos gregos. O historiador Georges Dumézil tem trabalhos escritos sobre tal assunto. Entretanto, é preciso resaltar que essa religião primitiva que mais tarde iria dar suporte a grande mitologia é uma religião doméstica. Ainda não tem o careter fabuloso dos heróis e criaturas monstruosas. A propriedade privada na grécia, surge com a invasão Dórica. Contra estes invasores, os antigos gregos utilizam sua religião doméstica como um tipo de resistência. Afinal, se a terra não tinha dono, como defende-la de invasores? Como impedir que esses ´´estranhos´´ se apoderem do lugar onde é prestado culto aos antepassados? É necessário proteger esta terra. É preciso proteger o culto que se faz através dela.
Em sua obra mais conhecida, ´´ A Cidade Antiga´´, o historiador francês do séc. XIX, Fustel de Coulanges, dedica alguns capitulos aos rituais de culto aos ancestrais na antiga helade.
O fato é que no período que vai da invasão dos Dórios até o chamado periodo classico é um intervalo de cerca de 400 anos( c. 1200 a.C. - 800 a.C.). desta ´´época obscura´´, a Helade emerge como de um ´´milagre grego´´ com uma civilização altamente refinada e regida por um panteão de deuses e deusas com características humanas. Além deste aspecto cultural, a grécia surge como um mosaico de Cidades-estado intependentes entre sí e que no periodo classico vão muitas vezes se bater em combates violentos, pondo fim ao esplendor de 500 anos de cultura e pensamentos gregos. Com efeito, o fato é que a grécia, vista em sua multiplicidade de ramos da grande ´´familia´´ indo-européia que se instalaram na região, através de um culto primitivo dos ancestrais acaba criando a propriedade privada da terra. De certa forma esta propriedade vai mais tarde alcançar o nível aristocrático do detentores do poder político ( da Polis) em regiões onde a invasão dórica foi mais combatida, como Atenas e as demais cidades-estado Jônicas.

Nietzsche e a História


 Por: Fábio Melo

A Filosofia de Nietzsche nasceu póstuma. Como o próprio filósofo costumava dizer, suas idéias só passaram a ter uma grande relevância no pensamento ocidental após sua morte. Mais ainda, somente após exorcizar-mos a suposta ligação do pensamento nietzscheano com as doutrinas nazi-fascistas, que utilizaram sua filosofia como justificativa de seus regimes. É somente na segunda metade da do século XX, principalmente nos anos 1960, que o pensamento de Nietzsche alcançará grande influência no próprio modo de produzir conhecimento em varias áreas das ditas ciências humanas, como a História, a Sociologia e até a Psicanálise. Grandes nomes da Filosofia européia contribuíram para isto, como Michel Foucault e Gilles Deleuze. O primeiro( Foucault) trás para a História o conceito de genealogia em Nietzsche, a busca da origem, e faz a história daquilo que aparentemente não tem história: como a loucura, a sexualidade. Desta forma Foucault ´´revoluciona´´ a História. Partindo desta nova forma de se fazer história, alguns historiadores da famosa Ecolle des Annales, na França, passarão a propor uma nova corrente teórica da historiografia: a chamada Nouvelle Histoire ( História Nova). Com efeito, a história nova trás ao estudo historigráfico estes novos conceitos, antes propostos por Foucault e com a inspiração de Nietzsche.
Cabe resaltar que o movimento historianovista surge em meados dos anos 1960; o historiador Jacques LeGoff publica seu livro com o titulo de ´´ A História Nova´´ em 1978. Assim, voltamos à influência postuma de Nietzsche, que sem querer influênciou a historiografia ocidental. Para além do bem e do mal, para além do marxismo, o legado do pensamento nietzscheano trras para nós historiadores um manancial de novas fontes das quais há muito deveriamos nos apropriar. O marxismo, em parte, acabou solapando temas que estão ligados ao cotidiano , que também tem uma história a ser contada mas que muitas vezes ,ainda presos as montagem economicistas, não nos damos ao trabalho de ´´ trazer à luz´´ estes temas corriqueiros. A loucura, a sexualidade, o amor, os valores, são sentimentos, mas que não deixam de ter uma história bem específica; as sociedades mudam e seus valores e costumes entram em transformações de tempos em tempos. O surgimento do cristianismo não eliminou imediatamente a antiga religião romana. Os sentimentos, as tradições e as idéias são importantes para chegarmos ao passado e escrevermos a história. Por muito tempo estes temas permaneceram mudos, cabe a nós históriadores faze-los falar; como dizia o próprio Nietzsche:´´fazer falar aquilo que gostaria de permanecer mudo´´.
Para além destas idéias, podemos encaixar no estudo e na pesquisa da história alguns conceitos provenientes da filosofia nietzscheana. Como por exemplo, o conceito de ´´eterno retorno´´. Para Nietzsche, este seria um dos conceitos centrais de sua filosofia. Penso, no entanto, que ao utilizarmos este conceito na area da história podemos fazer da seguinte forma: dado que o eterno retorno de Nietzsche seria a idéia de que alguns fatos sempre se repentem( uma espécie de de já vu), podemos utilizar como uma espécie de comparação entre as épocas, os povos em diferentes etapas da história, tomando cuidado para não caírmos na praga do anacronismo; como também podemos usar tal conceito para fazer a história se tornar uma ferramenta do presente, o eterno retorno serviria para fazer um link específico entre a situação trabalhada no contexto histórico e a situação atual.
Portanto podemos utilizar o pensamento de Nietzsche na história com o objetivo de alcançarmos outras análises e métodos, para termos um novo leque de possibilidade e leituras. Assimilar algumas das idéias de Nietzsche não deve servir para ´´engessarmos´´ nosso modo de escrever e fazer história, pelo contrário, devemos ter uma abrangência teórica para fazermos as escolhas cabíveis ao que queremos como resultado final de nossos trabalhos e pesquisas. Assim sendo, teremos mais confiança ao fazer a nossa história, teremos uma base teórica mais livre para pensarmos sob diversos olhares as mais diversar Histórias que são produzidas.